sábado, 24 de julho de 2010

Rascunho antigo que achei interessante

   Meus olhos eram pura carência, minha entrada nos outros olhos são a eterna procura por uma opressão mais forte do que a repressão que faço comigo mesmo.

   A procura nos olhos de outras pessoas, o olhar fixo e nervoso que não consigo evitar, é o olhar carente. Querendo atenção e carinho meus olhos se entregam sem saberem disso, caem no abismo dos outros olhos, meus olhos que não sabem olhar. Lógica que fantasia e tampa a essência, olhos de insônia, de noites sem dormir, em decadência.

   Converso com medo da ausência, antecipo ausência na presença, e me presenteio com mais ausência e solidão. Sozinho na minha cama escrevo o meu não. Sozinho na minha cama escrevo o meu não a mim mesmo. Cada sim alheio virou um não certeiro. Cada casa do meu corpo uma bomba relógio que não para de explodir.

   Sou a repressão num corpo, só tenho ela e o medo de perdê-la. No fundo não quero conte-la, a repressão, quero dete-la, mas solta-la. Não quero reprimir, mas reprimir e eu nos confundimos. O que sou eu, eu não sei, logo posso ser reprimir.

   Na eterna busca dos meus olhos vejo alguém, 

   você

   onde no poço, caio bem fundo,

   alguém

   e entro num mundo do meu interior

   seu

   nos olhos de outrem,

   meu

   teu

   estou sempre te procurando e não sei quem é.

   Se isso é dor

   cadê o amor?

   Se isso é cor cadê o sabor?

   Cadê o amor em mim, você?

   O amor por mim, cadê?

   Sou um vazio aberto a mosquitos que comem à vontade e devoram as tripas feito um cabrito comendo grama. Não faço drama, o gosto das tripas do vazio é casto.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ele, Aquele, Este e João

Ele vinha com sua coragem, na loja de penhores queria troca-la por medo, mas o dono dizia:

-o medo vale muito mais, vale tanto mais que nem com mil coragens você compra um medo.


Ele entendia o motivo, no fundo compreendia que realmente o medo valia mais. E como não podia fazer nada com sua coragem numa sociedade como aquela, resolveu mendigar...



Aquele vinha de muito distante, e trazia consigo o altruísmo, na loja de penhores queria troca-lo pela covardia, mas o dono sempre dizia:

-a covardia vale infinitamente mais, vale tanto mais que nem com dez mil altruísmos você compra uma covardia.


Aquele então entendeu o motivo, no fundo compreendeu, que realmente a covardia valia mais. E como não podia fazer nada com seu altruísmo na sociedade em que vivia, resolveu mendigar...



Este vinha de tão longe, que nem cem mil distâncias comprariam seus pés, então ele foi para a loja de penhores e trocou seus pés por nada, o dono tinha dito:
-seus pés valem tanto que nada pode comprá-los...


Este então, com nada, e sem pés, não podia fazer nada com seu nada na sociedade contemporânea, resolveu mendigar...



Um belo dia João, um humilde filho de gângsters, com intenções de ajudar as pessoas de rua, saiu com um monte de coisas numa sacola, e olhando o horizonte, percebeu ali Ele. Ficou com pena, pois via que tinha muita coragem. Pegou o medo da sacola e deu a Ele, o que fez com que Ele pudesse viver como um cidadão comum.

  Não contente com esse lindo ato, continuou caminhando durante horas pela cidade, até que avistou ninguém mais, ninguém menos, que Aquele, e disse:

-Tome, aqui esta a covardia que tanto precisa, pode me dar seu altruísmo. Aquele saiu covarde como nunca tinha se visto, e João já tinha coragem e altruísmo na sacola.

Em suas últimas horas pela cidade, após distribuir dívidas e praticar todo o tipo de maldade em prol dos mendigos, João leva um grande susto, ao se deparar com um homem sem pés, ele para diante de Este e diz: Oh!! O que aconteceu? Vejo que não tem pés, mas apesar disso tem nada em troca de seus pés, o que poderei eu fazer por você?

Então, João caminhou, e caminhou, refletiu, e percebeu que assim como aqueles mendigos precisavam de medo e covardia, Este precisava de pés. E João entendia que o altruísmo e a coragem seriam muito importantes pra si na carreira de gângster, assim como o medo e a covardia eram importantes para Ele e Aquele. Apesar disso, João só aprendeu o medo e a covardia com o pai, pois apesar das situações perigosas em que os atiradores se metiam, seus alimentos geralmente eram o medo e a covardia. E com a coragem e o altruísmo sentia algo que nunca sentira antes, a vontade de realmente ajudar alguém.

Em casa João pegou um faca e foi encontrar Este de novo. Arrancou seus dois pés em praça pública e os deu para Este. Este entregou nada a ele, agradeceu e foi embora. João ficou sem pés mendigando.

Um dia, resolveu ir a casa de penhores, chegando lá implorou:

-por favor dono!! Por favor!! Troque minha coragem e meu altruísmo por pés. Eu preciso de pés, mais do que de altruísmo, pois esse altruísmo todo vai fazer eu dar todos os meus membros. E preciso de pés mais do que de coragem, pois tanta coragem me faz acreditar em uma esperança para minha vida ordinária! Por favor!!!
Comovido
dono retira toda a coragem e altruísmo de João
e dá a ele o medo e a covardia
para que consiga viver em harmonia com a vida mendiga

domingo, 11 de julho de 2010

A faca pregada no peito dói

Os sentimentos aflitivos são contrários ao Budismo
preguei o prego no peito e a burrice no cérebro
não consigo ler, nem sentir tédio
não sei se sei amar, ou me jogar de um prédio

Ridículo é o suícidio, ridículo é o meu sentimento
reduzido a um papel de computador
com vazios espaços de movimentos
onde não vejo/ sinto/ cheiro nada

Só a falta dos sentidos pra orientar
não vejo o que escrevo agora, por isso escrevo
não sinto as teclas do computador
não sinto o tempo passar

Pela minha cegueira e azar
não sei dizer em que ano estamos
sou cego, surdo, mudo, e manco
é difícil andar com taquicárdia

Sei que as teclas não são de papel
o açúcar não é feito do mel
e eu não estou no céu
não sou Manuel, afinal

Ele foi pro céu
eu estou no Inferno
buscando água pra suprir a sede
batendo a cara na parede procurando ela

Sem ninguém, procuro ela
com ninguém planejo minha queda
e sem precisar de nenhum auxílio
caio e falho ao mesmo tempo

Pois o meio termo é que agora experimento
trago em mim o dissabor de viver
e a dor de ter prazer
vivo catando nada e querendo tudo

Então o que tenho não é absurdo
cego, surdo e mudo, sem olfato ou tato
não acho solução, mas ato falho
ato faz o que tem de fazer e me traz a lição

Caio, bato a cara, na porta da prisão em que eu mesmo sou o carcereiro, odeio o mundo, odeio a minha caixa de papelão pra botar a cabeça( meu travesseiro), ao mesmo tempo em que sou o meu porteiro, estou ali com as chaves na mão, e estou aqui com o coração no piso. sem vida, morto, ali, solto... Quero abrir a porta e ao mesmo tempo não quero...
Em cima do muro caço um rato com minha língua...
Sem sofrimento que dure pouco a gente reconstrói a roda, e sente o que todos os poetas que um dia estavam na "moda" já sentiram, ou não... aprendo aqui uma lição, a lição da emoção,
que come meu orgão bombeador de sangue que uma faca num mangue qualquer pode fazer

A faca fode toda a minha carcaça
e abre meu peito e fode minhas costelas
destrói o meu cerébro e desossa minhas canelas
a faca me fez de pão com manteiga e mortadela
o sino das seis bate, um mendigo morre, um soldado corre{ Em algum lugar do Afeganistão] Uma moça sorry, um cão late, e uma população sofre, eu escrevo, o metal balança, o eclipse do sol ocorre, a faca é uma criança[{ Mi sueñ5o es mi pad7re;:;; cos/as q;/?ue es)(cr´´ibo, mi am=or po-+r el socoYrre////////////////

terça-feira, 6 de julho de 2010

Morro quando acordo

Aprisionado pelo sistema e pelo sistema nervoso
fico nervoso, e perco a minha essência
vou trabalhar, e com decadência como
o almoço na hora do almoço de segunda-feira

Como uma prostituta dá, eu
não aprecio, eu mastigo sem riso
eu engulo com dor pela minha goela insensível
não tenho garganta nem peito

Então eu piso, no chão, de novo eu piso
e carrego minha massa corporal pelo escritório
sento em meu computador e com meus dedos eu teço
eu teclo, um novo velório de trabalho

Na cerimônia muitos estão
todos mortos pedindo um salário para o patrão
de que susto me tomo ao ver com clareza de razão
um funcionário vivo!!

Era um empregado em um cargo bem inferior ao meu
porém em seus olhos eu via, tinha certeza, eu sabia
ele sabia que seria o patrão um dia
de ver a vida assim de repente, logo me arrependi

Senti vida em meu corpo, aquilo doía mais que os alimentos descendo em minha goela,
então para elimina-la de mim,
humilhei aquele que trabalhava comigo na sala

-Empregado cheio de vida
porque não pega um café com saliva, para mim?!

E lá se foi o funcionário, segui-o
e escondido, vi-o, cuspir em meu café, como eu havia mandado
assim teria nojo da vida que daquele Ser saía
e talvez da vida estivesse curado

Quando me entregou bebi com gosto
bebi, engoli um pouco e o resto cuspi no espelho em minha própria cara, então eu disse:
-Muito obrigado!! Estava uma jóia rara!!

Aquilo me deu nojo, e morto de novo fiquei
o dia já estava no fim, para mim, um dia estranho
eu ali, há pouco vivo, e morto de novo agora
será, chegaria eu, um dia a ficar vivo, outrora

Em casa um beijo mecânico dei em meus filhos imaginários
e um sexo imaginário fiz com minha esposa mecânica
morro de noite com insônia e pela manhã acordo morto
depois olho para o relógio, levanto da cama

Tomo a ducha, como o café da manhã, leio o jornal
dirijo até o trabalho, entro no escritório, trabalho
morto