Meus olhos eram pura carência, minha entrada nos outros olhos são a eterna procura por uma opressão mais forte do que a repressão que faço comigo mesmo.
A procura nos olhos de outras pessoas, o olhar fixo e nervoso que não consigo evitar, é o olhar carente. Querendo atenção e carinho meus olhos se entregam sem saberem disso, caem no abismo dos outros olhos, meus olhos que não sabem olhar. Lógica que fantasia e tampa a essência, olhos de insônia, de noites sem dormir, em decadência.
Converso com medo da ausência, antecipo ausência na presença, e me presenteio com mais ausência e solidão. Sozinho na minha cama escrevo o meu não. Sozinho na minha cama escrevo o meu não a mim mesmo. Cada sim alheio virou um não certeiro. Cada casa do meu corpo uma bomba relógio que não para de explodir.
Sou a repressão num corpo, só tenho ela e o medo de perdê-la. No fundo não quero conte-la, a repressão, quero dete-la, mas solta-la. Não quero reprimir, mas reprimir e eu nos confundimos. O que sou eu, eu não sei, logo posso ser reprimir.
Na eterna busca dos meus olhos vejo alguém,
você
onde no poço, caio bem fundo,
alguém
e entro num mundo do meu interior
seu
nos olhos de outrem,
meu
teu
estou sempre te procurando e não sei quem é.
Se isso é dor
cadê o amor?
Se isso é cor cadê o sabor?
Cadê o amor em mim, você?
O amor por mim, cadê?
Sou um vazio aberto a mosquitos que comem à vontade e devoram as tripas feito um cabrito comendo grama. Não faço drama, o gosto das tripas do vazio é casto.